O álcool é responsável por 6% das mortes no mundo. A afirmação de que uma taça por dia prolonga a vida é um mito ou tem base científica?
Álcool: quanto menos, melhor”. É a premissa da Organização Mundial da Saúde (OMS) que identifica essa substância como a causadora de 6% das mortes anuais no mundo (7,6% entre os homens e 4% entre as mulheres). Beber, mesmo que em pouca quantidade, aumenta o risco de câncer. E por “pouco” se entende uma taça de vinho ou uma cerveja diárias no caso das mulheres e as duas coisas no dos homens.
É o que explica Miguel Ángel Martínez-González, professor de Medicina preventiva e Saúde pública na Universidade de Navarra (Espanha): “Está ligado a uma maior possibilidade de sofrer câncer de laringe, esôfago, fígado, mama, cólon e reto”. Além de outras doenças de fígado, pancreatite, risco de infarto, mais derrames cerebrais, acidentes de trânsito, suicídios, violência...
Martínez-González foi professor visitante na Universidade de Harvard em 2016 e é impulsor do projeto SUN (Acompanhamento Universidade de Navarra, na sigla em espanhol), que monitora parâmetros de saúde de mais de 22.000 participantes na Espanha e agora reúne alguns desses resultados em seu livro Saúde sem sombra de dúvida. É justamente nesse livro onde reúne as consequências negativas (e a única positiva) das bebidas alcoólicas na saúde.
Uma taça, somente para homens acima dos 45 e mulheres acima dos 55
Diante dessa lista de doenças e seu enorme custo social e familiar, como as pessoas acreditam que uma taça de vinho por dia pode prolongar a vida? “Em algumas circunstâncias, o consumo de álcool pode ser muito benéfico”, diz Martínez-González, “mas são circunstâncias muito restritas”. E levando em consideração uma regra básica: “Um médico nunca deveria recomendar a alguém que se inicie no consumo do álcool se nunca o fez e não tem o costume”.
Dito isso, “sabemos sem nenhuma dúvida que o álcool reduz o risco de se ter uma doença cardiovascular, mas somente a partir de certa idade: 45 anos nos homens e 55 nas mulheres”. Antes dessas idades, “o álcool só causa prejuízos”. [...] No projeto SUN “comprovamos os efeitos adversos metabólicos da cerveja. E também que quanto mais álcool, mais mortalidade. Mas também vimos, entretanto, que há uma forma — aplicável somente a pessoas mais velhas — de se consumir álcool que pode reduzir a mortalidade total. Chamamos isso de padrão mediterrâneo de consumo de álcool”. “Os que se encaixam nesse padrão — na continuação a descrição extraída do livro — vivem por mais tempo”.
Como se deve beber para que tenha efeito positivo
As pessoas beneficiadas estão “muito motivadas por ter uma boa saúde, se interessam na prevenção, têm estudos superiores, são responsáveis e com autocontrole. Não consta que nenhuma delas tenha feito uso problemático do álcool. Em princípio, são pessoas que comem muito bem e estão saudáveis. Quase nunca consomem destilados, não ficam bêbadas e não tomam muito álcool por dia, somente nas refeições. E o dividem durante a semana, não exageram no final de semana. Bebem um pouco para almoçar ou jantar. Talvez uma taça (mulheres) ou duas (homens) de vinho tinto”.
Por que funciona nessas pessoas quando superam as idades limite? “Talvez uma parte do segredo sejam os polifenóis, substâncias que se encontram [entre outros produtos como o cacau] no vinho tinto. Além disso, são anti-inflamatórios. Cada vez está mais claro que a dieta, quando tem maior quantidade de componentes anti-inflamatórios, previne o ganho de peso e as doenças crônicas mais importantes.
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